Um belo dia, sem que lhe fosse imposta
nenhuma das agonias da gestação ou parto,
o doutor lhe põe nos braços uma criança. Completamente grátis - nisto é que está a maravilha. Sem dores, sem choro, aquela criancinha da sua raça, da qual morria de saudades, símbolo ou penhor da mocidade perdida.
No entanto - no entanto! - nem tudo são flores no caminho da avó.
Há acima de tudo, o entrave maior, a grande rival: a mãe. Não importa que ela em si, seja sua filha. Não deixa por isso de ser a mãe. Não importa que ela ensine à criança a lhe dar beijos e a lhe chamar de "vovozinha" e lhe conte que de noite, às vezes, ela de repente acorda e pergunta por você. São lisonjas, nada mais.
Rigorosamente, nas suas posições respectivas, a mãe e a avó representam, em relação ao neto, papéis muito semelhantes ao da esposa e da amante nos triângulos conjugais. A mãe tem todas as vantagens da domesticidade e da presença constante. Dorme com ele, dá-lhe de comer, dá-lhe banho, veste-o. Embala-o de noite. Contra si tem a fadiga, a rotina, a obrigação de educar e o ônus de castigar.
Já a avó não tem direitos legais, mas oferece a sedução do romance e do imprevisto. Mora em outra casa. Traz presentes. Faz coisas programadas, leva a passear, "não ralha nunca", deixa se lambuzar de pirulito. Não tem a menor pretensão pedagógica.
Até as coisas negativas se viram em alegrias quando se intrometem entre avó e neto: o bibelô que se quebrou porque ele - involuntariamente! - bateu com a bola nele. Está quebrado e remendado, mas enriquecido com preciosas recordações: os cacos na mãozinha, os olhos arregalados, o beiço pronto para o choro; e depois o sorriso malandro e aliviado porque ninguém zangou, o culpado foi a bola mesmo, não foi, vó?
Era um simples boneco que custou caro.
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